sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Leitura complementar - Bruno Latour


Bruno Latour
JAMAIS FOMOS MODERNOS
Ensaio de Antropologia Simetrica

Tradução Carlos Irineu da Costa
Editora 34




Bruno Latour, no seu ensaio Jamais fomos modernos, refere que o «tempo que o calendário marca situa claramente os acontecimentos em relação a uma série regular de datas mas a historicidade situa os mesmos acontecimentos em relação à sua intensidade». Esta é uma verdade, que ele associa a uma observação de  Nietzche, segundo a qual «os modernos têm a doença da história. Querem guardar tudo, datar tudo, porque pensam ter rompido definitivamente com seu passado. Quanto mais revoluções eles acumulam, mais eles conservam, quanto mais capitalizam, mais colocam no museu». Latour pergunta: «Estaremos realmente tão distantes de nosso passado quanto desejamos crer?». Na realidade, como ele verifica, o «passado permanece, ou mesmo retorna. E esta ressurgência é incompreensível para os modernos. Tratam-na então como o retorno do que foi recalcado. Fazem dela um arcaísmo». Para os "modernos"  tudo «aquilo que não avança no ritmo do progresso é considerado (...) como arcaico, irracional ou conservador». Contudo, Latour ainda pergunta: «Há algum país que não seja uma “terra de contrastes”?». 
Latour propõe uma nova maneira de encarar a temporalidade: «Suponhamos, por exemplo, que nós reagrupamos os elementos contemporâneos ao longo de uma espiral e não mais de uma linha. Certamente temos um futuro e um passado, mas o futuro se parece com um círculo em expansão em todas as direcções, e o passado não se encontra ultrapassado, mas retomado, repetido, envolvido, protegido, recombinado, reinterpretado e refeito (...). Em um quadro deste tipo, nossas acções são enfim reconhecidas como politemporais». E, de facto, citando Clio de Péguy e Michel Serres «somos trocadores e misturadores de tempo». Não somos tradicionais, pois a «idéia de uma tradição estável é uma ilusão da qual os antropólogos há muito nos livraram. Todas as tradições imutáveis mudaram anteontem». A questão a ponderar é que «nunca avançamos nem recuamos. Sempre selecionamos ativamente elementos pertencentes a tempos diferentes. (...) É a seleção que faz o tempo, e não o tempo que faz a seleção. (...) É a ligação entre os seres que constitui o tempo». Nesta nova noção do tempo há ainda uma outra questão a reter, já sgerida por Serres, em 1989:  «A história não é mais simplesmente a história dos homens, mas também a das coisas naturais».
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Bruno Latour (1991).

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